quarta-feira, 23 de março de 2011

Juventude e boa vontade

É inevitável falar sobre os jovens de hoje em dia sem fazer uma comparação com a geração anterior. Costumo ouvir que a juventude atual é acomodada, não tem atitude nem sonhos. Normalmente esses comentários vêm acompanhados de um saudosismo cego que, de maneira maniqueísta, só vê o jovem de antigamente como revolucionário e idealista, engajado em questões políticas e sociais. No entanto, apesar de não ter vivido “naquela época”, sei muito bem que, em tais tempos, havia também o rebelde sem causa, que ia para as manifestações estudantis única e exclusivamente para buscar uma nova paquera ou por “status” dentro da turma. Não quero aqui ser injusta: sei que houve (e sempre vai haver) os mártires que doam a vida pelas altruístas causas sociais e políticas. Todavia, se, algumas décadas atrás, as utopias juvenis eram o socialismo e o fim da opressão (“É proibido proibir...”), até hoje existem jovens que, à sua maneira, buscam melhorar o mundo.
Sei que a tendência dos ditos “adultos maduros” é julgar nossos adolescentes como alienados que só ouvem, veem e escrevem besteiras em seus mp3’s, TV’s a cabo, blogs, orkuts e twitters. Mas pensemos direito: hoje eles têm muitíssimo mais acesso à informação (se é de qualidade ou não, eles é que devem dizer, já que têm a – tão almejada – liberdade). Sem censura, a chamada “Geração Y” tem a possibilidade livre de escrever, ouvir, ler e ver o que quiser e fazer desse arcabouço cultural aquilo que seus valores individuais permitirem. Ver um aluno assistindo a uma aula de Gramática com um fone no ouvido é, de fato, irritante. Porém não posso negar que seu ato é também uma forma de rebeldia, uma maneira de expressar sua opinião sobre aquilo que, naquele momento, não lhe interessa. Uma manifestação (não era isso que queríamos?) de atitude, opinião, tentativa de mudança.
Não estou querendo dizer que tudo agora deve ser permitido. O adolescente de hoje (assim como o de qualquer outra época) precisa conhecer os seus limites. Já dizia Jean-Paul Sartre que “liberdade só existe com responsabilidade”. Não é descumprindo regras aleatoriamente e a todo tempo que se consegue o que se deseja. Muito pelo contrário, deve-se encontrar um meio de, dentro do sistema, com diplomacia, alcançar aquilo que almejamos. Esse é o ponto que me preocupa. A liberdade “conquistada” pela geração anterior não pode ser confundida com o caos ou a acomodação.
Mas tenho plena convicção de que os jovens de hoje, ao contrário do que muitos pensam, têm sim capacidade de construir novas formas de melhorar muito o nosso mundo. À maneira deles, é possível que haja mais respeito à diferença (pois, na internet, por exemplo, há espaço para todas as tribos), mais amizade (vejo muito, cada vez mais, os estudantes unidos) e mais felicidade (não há como negar que esses adolescentes vivem rindo à toa).
Se tenho algum conselho a dar... Dá-lo-ei a todos nós (jovens e não-jovens): respeitemos as opiniões dos outros com atenção. Quem sabe eles não têm razão? Será que não somos apenas nós que, egocentricamente, achamos que a nossa maneira de ver o mundo é a única correta? Lembremos do que disse Renato Russo (“Você culpa seus pais por tudo / Isso é absurdo / São crianças como você / O que você vai ser quando você crescer?”). E os já mais velhos podem entender da seguinte forma: Você julga os jovens por tudo. Isso é absurdo. São crianças como você. O que você já fez antes de “crescer”?

2 comentários:

Grasiela disse...

Então...
A "geração Y" está acometida com o que chamo de Síndrome da Flexibilização de Valores, onde já há sim, no meio deles e da "geração Z"(principalmente) um maior respeito à individualidade.
O detalhe é ver o fone de ouvido durante a aula como uma manifestação... Aí eu sou mais geração X. Eles têm mais acesso a informação, sim! Mas parece que não sabem usá-las para amadurecer intelectualmente.
Quer saber? Acho que a geração android 2.2 não deixa de ser outra padronização "The wall" - só que com um pouquinho menos de conteúdo.

Jonas Campos - Psicólogo/Escritor disse...

Comparar uma geração à outra é como comparar a vida terrestre com os organismos vivos encontrados em Marte. Dá pra se ter um distante noção do que pode ser um e outro, mas nunca chegaremos à uma definição exata de qual geração é "a melhor". Os mundos são completamente diferentes, logo, as pessoas também o são. Não só as causas, mas também nossas vidas não são as de alguns anos atrás. Tudo muda. Negar a mudança é negar a própria existência das coisas.