segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Amigas

Hoje reconheço:
ingrata que fui,
sumi.
(e pela segunda vez)

Admito:
Ali, cercada de ilusão
Alicerçada no sonho
(de Alice),
fantasiei...
Voei longe para tocar o sol
Bem longe mesmo.

Vocês, aqui,
talvez precisassem de mim:
conversas tolas, fofocas, conselhos, lágrimas...
ou até uma tarde gostosa de gargalhadas,
regadas a um bom chopp.

Mas que nada...
fui viver outra família
(linda que era, de verdade);
fui sorrir outros amigos;
fui fingir ser quem não era,
só para tentar ser mais próxima
daquela que (segundo meu julgamento)
talvez fosse melhor para outros.

Na verdade, fui eu mesma...
só que em versão exclusiva...
entendem?
A mesma bobona, que ri de qualquer coisa;
a mesma amiga, que ouve e dá conselhos;
a mesma menina, que acha que é mulher.

Hoje, de novo,
volto ao abrigo de vocês,
ao abraço e ao sorriso
de  quem soube me esperar,
mesmo que torcendo
pela minha felicidade - longe.

Obrigada pela amizade,
pelo carinho,
ou por simplesmente
existirem
e fazerem de mim
eu mesma
novamente.

Eu amo vocês,
de verdade.





domingo, 15 de julho de 2012

Casa de Mãe

Volto
Um pouco triste
Um tanto só
Um quase nada...
...mais leve.

Que a brisa dessa tarde
leve
embora tantas dores
nossas.

Que a força dessa prece
eleve
a causa dos amores
nossos.

Que a sina dessa vida
releve
os momentos pecadores
nossos.

E que a volta dessa filha
revele
a morte dos temores
nossos.



terça-feira, 27 de março de 2012

Filhos

Que haja tempo,
de hoje e sempre,
que seja simples.

Que o sempre viva,
que nasça vida,
que o nosso ria.

Que o nosso tempo 
(bonito como a cara dos nossos filhos)
nos possa
simplesmente
abraçar.

Que dois enfilm,
carregados no colo 
de um tempo carinhoso,
possam ser mais,
mais de dois,
mais de nós.

E sendo mais,
terão mais tempo,
tão bonito,
assim distribuído,
entre vários,
frutos de nós,
os antes sós
só dois.

Então sóis
serão assim
em torno dos quais,
astros menores orbitam.

Que haja tempo,
de hoje e sempre,
que seja simples.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Jamais queira ser amante de um poeta

Jamais queira ser amante de um poeta!
Você pode até ser
sua musa inspiradora:
distante,
difícil,
dispersa...
Mas não... não realize seu sonho.
Os de-lírios do poeta precisam viver apenas
em seu mundo de-lírico,
onde a musa é perfeita,
e reina o amor.
O amor mais puro e delicado que pode existir: ideal.

Se a pobre musa inspiradora se permite
ser gente para o poeta,
viver ao seu lado e tentar
 – pretensiosa –
fazê-lo feliz,
só alcançará o contrário.

O poeta só é grande se sofrer.
E sofre muito mais
acompanhado do que só,
porque o seu alvo
jamais conseguirá atender
ao que ele romantiza.

O poeta ama mais o amor
do que a pessoa amada,
sem disso se dar conta.
Ele toca o lirismo tatilmente...
convive amando essa metalinguagem.
E a pobre musa, viva,
erra a todo instante
errante,
crucificada pelo que chamo de
esquizofrenia poética.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Ingenuidade

Para minha linda irmã, Grasy

Que haja sempre lugar para ingenuidade no mundo

Por que o ingênuo precisa ser sempre visto como fraco?
Por que parece tão suscetível e incapaz?
Não. O mundo não vê a força que tem quem é ingênuo.
Ele é mesmo um forte. Além da indubitável felicidade que carrega.
Feliz, sorri com a coragem de ter esperança. Ele crê.
E crendo, meu Deus, tem muitas chances, sim, de estar certo!
Ele pode estar certo por não generalizar crueldades ou malícias.
Elas existem no mundo, mas não o dominam.

São muitos os alarmes que se fazem aos quatro cantos,
bradando que viver é muito perigoso...
E há também muitas provas disso.
O ingênuo, não duvide, já foi machucado,
já caiu em golpes,
traído, muitas vezes...

Ele simplesmente
(sabiamente),
só não quer ser injusto
contra quem, como ele,
algum dia,
tiver boa vontade.

Quem o julga
e diz reconhecer os malfeitores
vê em si
astúcia...
Mas não reconhece que sua
esperteza
só serve de escudo, covarde que é.

Sem perceber
que só vemos no outro
aquilo que em nós
vive.
   

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Terra-Natal

   Ali nasceu o menino. Numa terra simples e rica de gente, com criança, cachorro e doido no meio da rua, brincando. Em frente à igreja, na praça que tipifica qualquer tom interiorano, um presépio delicado ilumina as mãos dadas dos namoros que sempre serão lembrados. À noite, o cheiro do jasmim é mais forte, perfumando os cabelos daquelas que se apaixonam pela delicadeza de pequenos gestos.
   A casa é tão viva quanto a cidade e os corações dos que a habitam. Dela emanam as luzes de Natal e de duas mães: a primeira carrega a sabedoria da tripla maternidade, dita duplicada pela graça de ser avó. Ela cuida da casa, do marido tão doce, das roupas do netinho e dos filhos (que podem estar perto e longe, independente de estarem no quarto ao lado ou sós na capital). Cuida também dos sentimentos da cidade, sua fé e seu futuro, generosidade personificada. Mas não deixa de também cuidar de si: vaidosa, mantém os cabelos impecáveis, macios para os afagos de tantos que a amam e que, mesmo não tendo saído do seu ventre, a chamam de mãe.
   A segunda vive a plenitude da recente chegada daquele a quem ela dedica incansável cuidado e ternura. Vive a exclusividade da amamentação e do zelo ao centro do carinho da casa. Ainda não ouviu para si a doce pronúncia do nome que carrega o significado do que hoje ela é, mas é quase assim chamada: responde a alguns pelo apelido de Mã (ensaio para quando chegar a próxima vogal).
   O Natal só existe porque existe a Mãe. É ela a terra onde nascem os meninos que brincam de ser homens quando estão longe. Mas eles sempre voltam. E quando nela estão, sua leveza de infância renasce palpável em seus gestos, sorrisos, olhares e palavras. Perto da Mãe-Terra-Natal, são sempre (e que assim sejam) apenas meninos.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Fêmina

Quando nasci,
um anjo bendito
(envolto num manto azul)
anunciou:
serás como eu,
destinada a ser costela.

Mas me fiz extremamente:
reneguei-me feminina,
enxerguei-me feminista,
sem saber que, nesta sina,
posso, menos extremista,
ser as duas, simplesmente.

Do passado renascida
tendo  força delicada,
e na causa em mim erguida,
na bandeira carregada,
em mim mesma gesto vida
em meu mundo sou jornada.

Meu futuro descortina
no que cumpro destinada:
ser moderna feminina
mesmo forte, ser cuidada.

Ser Simone se souber
Ser Amélia se quiser
Ser Clarice se puder
Ser Alice se couber

Hoje sei que tenho escolha
no direito que meu é.
E se sou de mim a dona,
eu decido:
sou mulher.




domingo, 16 de outubro de 2011

Infância de Meninos

Naquela antiga cidade, três pequenos jogavam bola. Na brincadeira deles, havia algo além da ingenuidade dos meninos do interior, era a beleza do início de uma irmandade. Banho, escola, missa, meninas, e eles sempre juntos, rindo-se plenos.
Hoje, são homens na cidade. Andam sérios, cumprindo-se honestos. Mas jamais serão homens da cidade: sua Terra se faz Nova nos momentos de descuido, quando revivem em memória sua infância. Os três hoje se sustentam ainda pela inspiração daqueles tempos, mesmo que não saibam. Se não fosse a pureza daquela felicidade, o mais velho não seria o mais menino dos três: virou artista. Os outros dois ainda tentaram outros caminhos, mas a vida os conduziu à profissão mais bonita para quem ainda tem esperança: são professores.
E não há espetáculo mais belo do que ver o reencontro deles. Os cumprimentos não são os apertos de mão civilizados que se impõem aos homens. Não. Eles trocam beijos, abraços, carinhos e palavras de amor. E também, numa atitude que incrivelmente não é contraditória, riem um do outro, em galhofas e enxovalhos, lembrando inconfessáveis momentos que viveram juntos.  Apelidados, revelam detalhes das intimidades de cada um e, ainda hoje, cobram uma peça de roupa que ou outro pegou emprestado sem pedir e admite que não mais devolverá.  Os que apreciam o incêndio deles não se chocam. Não. Eles se amam como crianças ainda, mas se respeitam como homens.
A beleza do passado se renova no presente, fazendo dos três meninos fortes para suportarem as dores da caminhada, mas também ainda doces, para seguirem sonhando. Do futuro deles três, apenas uma certeza: jamais se separarão. Compadres, irmãos, amigos. Trarão junto suas esposas, filhos e netos, para os quais contarão, com a mesma alegria de sempre, histórias de sua infância. 
Há quem diga que não se fazem mais meninos como antigamente, mas, acredite, ainda há quem os inspire.
 

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Sincretismo

Meu querer, sem querer,
era quase carnaval:
em face de farra.

E você - ao meu ver -
era missa de domingo:
de família e fraque.

Mas vivemos a certeza
a surpresa da beleza
do destino que nos resta.

Nosso amor é assim
é lavagem do Bonfim:
é da fé que se faz festa.

Em completude.

 

Fases

Em sonho,
trago.
(Criança)

Em vida,
sopro.
(Agora)

Enfim,
recordo.

(...)

De acordo,
não mais acordo:
não me nego ao cordis:
concordo.
Conforme.