terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Terra-Natal

   Ali nasceu o menino. Numa terra simples e rica de gente, com criança, cachorro e doido no meio da rua, brincando. Em frente à igreja, na praça que tipifica qualquer tom interiorano, um presépio delicado ilumina as mãos dadas dos namoros que sempre serão lembrados. À noite, o cheiro do jasmim é mais forte, perfumando os cabelos daquelas que se apaixonam pela delicadeza de pequenos gestos.
   A casa é tão viva quanto a cidade e os corações dos que a habitam. Dela emanam as luzes de Natal e de duas mães: a primeira carrega a sabedoria da tripla maternidade, dita duplicada pela graça de ser avó. Ela cuida da casa, do marido tão doce, das roupas do netinho e dos filhos (que podem estar perto e longe, independente de estarem no quarto ao lado ou sós na capital). Cuida também dos sentimentos da cidade, sua fé e seu futuro, generosidade personificada. Mas não deixa de também cuidar de si: vaidosa, mantém os cabelos impecáveis, macios para os afagos de tantos que a amam e que, mesmo não tendo saído do seu ventre, a chamam de mãe.
   A segunda vive a plenitude da recente chegada daquele a quem ela dedica incansável cuidado e ternura. Vive a exclusividade da amamentação e do zelo ao centro do carinho da casa. Ainda não ouviu para si a doce pronúncia do nome que carrega o significado do que hoje ela é, mas é quase assim chamada: responde a alguns pelo apelido de Mã (ensaio para quando chegar a próxima vogal).
   O Natal só existe porque existe a Mãe. É ela a terra onde nascem os meninos que brincam de ser homens quando estão longe. Mas eles sempre voltam. E quando nela estão, sua leveza de infância renasce palpável em seus gestos, sorrisos, olhares e palavras. Perto da Mãe-Terra-Natal, são sempre (e que assim sejam) apenas meninos.