domingo, 16 de outubro de 2011

Infância de Meninos

Naquela antiga cidade, três pequenos jogavam bola. Na brincadeira deles, havia algo além da ingenuidade dos meninos do interior, era a beleza do início de uma irmandade. Banho, escola, missa, meninas, e eles sempre juntos, rindo-se plenos.
Hoje, são homens na cidade. Andam sérios, cumprindo-se honestos. Mas jamais serão homens da cidade: sua Terra se faz Nova nos momentos de descuido, quando revivem em memória sua infância. Os três hoje se sustentam ainda pela inspiração daqueles tempos, mesmo que não saibam. Se não fosse a pureza daquela felicidade, o mais velho não seria o mais menino dos três: virou artista. Os outros dois ainda tentaram outros caminhos, mas a vida os conduziu à profissão mais bonita para quem ainda tem esperança: são professores.
E não há espetáculo mais belo do que ver o reencontro deles. Os cumprimentos não são os apertos de mão civilizados que se impõem aos homens. Não. Eles trocam beijos, abraços, carinhos e palavras de amor. E também, numa atitude que incrivelmente não é contraditória, riem um do outro, em galhofas e enxovalhos, lembrando inconfessáveis momentos que viveram juntos.  Apelidados, revelam detalhes das intimidades de cada um e, ainda hoje, cobram uma peça de roupa que ou outro pegou emprestado sem pedir e admite que não mais devolverá.  Os que apreciam o incêndio deles não se chocam. Não. Eles se amam como crianças ainda, mas se respeitam como homens.
A beleza do passado se renova no presente, fazendo dos três meninos fortes para suportarem as dores da caminhada, mas também ainda doces, para seguirem sonhando. Do futuro deles três, apenas uma certeza: jamais se separarão. Compadres, irmãos, amigos. Trarão junto suas esposas, filhos e netos, para os quais contarão, com a mesma alegria de sempre, histórias de sua infância. 
Há quem diga que não se fazem mais meninos como antigamente, mas, acredite, ainda há quem os inspire.
 

5 comentários:

Eduardo Pelosi disse...

Essa é a vantagem de não deixar a criança dentro da gente morrer nunca =]

Ilana Guimarães disse...

E ela nunca morre, Duda, nunca...

Tiago Lago disse...

Fenomenal,é de arrepiar...
Emocionante demais!

Tiago Lago disse...

Muito lindo...

Diana Motta disse...

Incrivelmente Belo este conto Ilaninha! "Fazer amigos é um dom, mantê-los é uma dádiva!" Pois as coisas boas da vida não se compra, são de graça, como: palavras de amor, beijos, abraços, reunião de amigos, família, risadas, conversas e a natureza.