sábado, 8 de outubro de 2011

Heideggeriana

Não é nos milésimos de segundos que existimos: é nas lembranças dos instantes. Cada momento singular nosso é vivido tão rapidamente, que não há tempo para sentir o tempo. Uma melodia só se constrói única porque guardamos n’alma cada nota que escutamos e rememoramos todas as anteriores ao ouvirmos a seguinte, tecendo a música na lembrança. É assim que nos fazemos: somos seres da memória. E quando ela se torna recordação, passamos um grande tempo revivendo outros tão maiores, mas que, não paradoxalmente, podem ser revividos eternamente em piscares de olhos, quando o que recordamos é tão intenso que chegamos a reviver anos em apenas uma sensação. Rever um lugar, sentir um antigo cheiro, tocar uma textura, provar um gosto ou ouvir uma voz... Cada uma dessas sensações também dura menos do que milésimos de segundo, mas tem a potência de toda uma vida. Somos o tempo; e cada tempo, que se acha dono de si, sempre só se faz e fez por nós. 
Chega, tempo, caminha ao meu lado... cansei de lutar contra quem a mim é igual. Nem te domino, nem me devoras. Decifremo-nos.


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