sábado, 30 de abril de 2011

Prenhe-poética

Todo esse tempo
Essa aflita felicidade inquieta
Só tentou abafar o que era óbvio:
Estou grávida de poesia.

Com medo que os filhos me lembrem seu pai,
Esqueci a gestação
Que se seguiu silenciosamente involuntária.

E hoje descobri que,
sendo a dor parte do parto,
aceito-a,
ansiosa que estou de sentir a maternidade.

Os momentos de inspiração fecundinária
Virão inevitáveis nos olhos do rebento.
Mas ele é tão belo
Que consola a melancólica mágoa que me recorda.

Que venha a dor, mal de quem ama;
Que traga o choro, fruto dos ventres vazios;
Que chegue tudo o que sempre escondi
Por trás desse sorriso.

Quero que a verdade abafada dos travesseiros berre nas madrugadas
E eu, acordada, acalentando-a,
Possa amamentar-me de esperança
Para, quem sabe um dia,
Voltar a ser fértil.

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