
Às vezes, não: translucidamo-nos. Deixamos aparecer nosso eu sincero (quase sempre involuntariamente, é claro - sorte dos que podem fazê-lo conscientes); como se, por um lapso, nos esquecêssemos das máscaras e nosso sentimento quisesse sair, pôr a cara no mundo, olhar bem nos olhos do grande mágico, aproveitando o desleixo da porta entreaberta.
Só quem já sentiu na pele as consequências de ter deixado (sem querer) um sentimento aparecer em uma fotografia sabe a raiva que dá no momento da re-ve-la-ção. Complicado. Não se pode esconder a cara num buraco: ela está lá, estampada, explícita, provando o que se queria esconder, flagrante de um milésimo de segundo.
Mas tudo bem. É assim que funciona. Acho que não dá para encenar o tempo inteiro. De vez em quando, alguém nos fotografa sem câmera, vê esses instantes de brecha para a alma e percebe, mas não tem como provar, ou rever. Mas, cá entre nós, são essas as fotografias mais verossímeis: contemplam, ao mesmo tempo, o olhar do outro e o nosso. Passam-se tempos e se pode retomar, desses álbuns incontritos e inconcretos, o que importa mesmo. Se é verdade ou não, só interessa a versão, lembrança, recordação. Afinal, se tudo é representação, valoremos aquilo de cuja construção fizemos parte.
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