sábado, 30 de abril de 2011

Resposta

-Não sei se sabe que era de você que eu estava falando.
-Foi? Não percebi relação.
-A relação fui eu que fiz. De fato, não havia. Inventei.
-E o que quis dizer?
-Quis, não. Disse.
-Que seja, então. O que disse?
-Disse-me a você. Mostrei quem sou e o que quero.
-Mas pelo menos está lúcida: Você mesma disse que foi ilusão.
-Ilusão, não. Criação. Mas parece que errei de palavra. Você soa mais certo.
-Se ligue: eu não vou viajar na sua pieguice que indiretamente tenta me comover, achando que me seduz. Sendo duro e franco: acho que você cria expectativas demais. Relaxe. Tô bem como tô, aqui, buscando o que quero.
-Entendo. Mas não me importo com você, como está ou coisa do tipo. Na verdade, era importante ter um alvo para servir de inspiração, algo como uma droga, que você sabe que é alucinógeno, mas se preocupa apenas com o efeito. Entende?
-Não, mas tudo bem. Desde que você não me importune ou faça cara de criança chorona quando vir o que não quer.
-Se falar com você qualquer amenidade for importuná-lo, avise. Paro tranquila. E quanto à "cara de criança chorona", reforço: não é para você; é só efeito. Não desejo qualquer tipo de preocupação da sua parte, ok?
-Agora estamos conscientes.
-Eu sempre estive, só achei que não havia necessidade de grosseria. Mas tudo bem. Não me magoa sinceridade. Tenho consciência emocional (não tanta inteligência quanto você pensa que tem).
-Ok, então. Parece que chegamos a um nível ruim, mas tudo bem. Pelo menos esclarecemos tudo.
-Esclareci a você. O nível, para mim, é o de sempre. Mas saio disso, porque o que mudou foi meu interesse. Acho que agora, vendo você real, perdi a vontade de torná-lo ideal. Sempre foi uma personagem esférica em minha literatura, mas agora se mostrou totalmete plano e previsível. Preciso mudar de fonte. Cansei.
-Beleza então.
-Beleza.

(Ela volta para casa. Revê fotos antigas e sorri. Fecha seus álbuns e cadernos e seu clelular lhe lembra que tem hora marcada no salão)

Fim do primeiro ato.

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