sábado, 30 de abril de 2011

Eu e a academia

Confesso: hoje sei o que é ser a pior aluna da classe. Em meus tempos de escola e faculdade, estava, muitas vezes, entre os primeiros; no máximo (ou no mínimo, a depender do ponto de vista), ficava na média. Mas nunca fui para a recuperação sequer. Filha de professora tinha de “dar exemplo”.Pois então, como dizia, sou hoje a pior aluna da turma. Onde? Na academia (não aquela sinônimo de meio acadêmico, mas a mais frequentada e quista: a de ginástica).Antes de começar, todo um ritual: comprar um tênis novo, bermuda de lycra e até um squeeze descolado. Toda paramentada, lá vou eu, buscar perder uns quilinhos e tentar, mais uma vez, me enquadrar aos padrões estéticos impostos pela sociedade capitalista ocidental, ou seja, queria ficar no “shape do verão”. Logo de início, mais uma daquelas constrangedoras avaliações físicas em que teoricamente se mede nosso percentual de gordura corporal; mas, na prática, a intenção é torturar os gordinhos com os beliscões daqueles aparelhos em formato de pinça apertando nossos pneuzinhos, como se dissessem: “viu no que dá levar tanto tempo para tomar vergonha na cara e vir aqui tomar uma providência?” Mas tudo bem, passamos pelo constrangimento inicial sem graves problemas e partimos para a malhação de fato, com boa vontade.Começa uma aula empolgante (!?) de Power Jump (parece que usam os nomes em inglês para tornar a coisa toda mais moderna, lúdica, atrativa)! Todo mundo em cima de suas caminhas elásticas e de frente para um enorme espelho com luz e tamanho suficientes para apreciarmos nossas fofas pelanquinhas saltitando mais do que o enlouquecido professor que berra sorridentemente: “Vai linda! Joga fora esse pneuzinho! Vá embora celulite!”Meu Deus, o homem tem a cara-de-pau de chamar de “linda” aquela para cuja celulites ele mesmo aponta do jeito mais indiscreto possível! Na moral, eu acho que não mereço esse discurso forçado de auto-ajuda, sério mesmo. Se era pra dar uma de Paulo Coelho, era melhor ficar calado. Mas tudo bem, eu persisto, finjo que não é comigo e me concentro na respiração para não fazer feio, tentando não parecer tão ofegante na frente das minhas colegas. Ô, minha gente, minhas colegas de academia! Essa é a pior parte! Além de quase todas terem os músculos definidíssimos (sinceramente, se eu tivesse um corpo daqueles, já teria deixado a academia há muito tempo: já tinha surtido efeito), conseguem seguir impecável e sincronicamente todas as mirabolantes coreografias inventadas pela mente criativa do professor que berra irritantemente, com um fôlego que não acaba nunca. Enquanto isso, eu procuro sobreviver àquela situação, errando absolutamente todos os passos e tropeçando em minhas próprias pernas! Aff! Mas... Tudo bem! Preciso superar. Para piorar, o professor (sempre ele!) em vez de fingir que não está vendo, de fazer de conta que não estou ali, prefere falar diretamente comigo: fica do meu lado e diz que o passo é fácil, repete: "1, 2, 3, 4... 1, 2, 3, 4". E eu lá, persistindo, disfarçando, querendo loucamente acertar para me desviar do foco das experts que se acabam lá na frente. Todavia, para variar, fico ainda mais nervosa e faço coisas piores. É... eu consigo me superar.Mas – de novo! – tuuudo bem, resisto e aprendo uma “opção facilitada” exclusivamente para mim, enquanto as outras saltam em perfeita sintonia entre si e a música. Terminada, enfim, a aula, não acaba o constrangimento: vamos pegar peso, mulher! Lá estou eu, levantando orgulhosamente um pesinho de dois quilos em cada mão, enquanto, ao meu lado, alguém que, na minha concepção, não tem mais motivo para tanto sacrifício carrega, sem piscar, mega alteres daqueles que parecem ser feitos com pneu de caminhão.Fugindo do espelho, olho para cima, para um restinho de parede todo “decorado” com homens e mulheres super sarados, suados e envoltos numa atmosfera, literalmente, sexy. Olho novamente a minha imagem no espelho e desconstruo de vez aquele discurso ( inventado para consolar gordo) de que seria ridículo alimentar a indústria da beleza. Gente, não há ideologia cabeção que resista a tamanha apelação! É demais para mim. Dou graças a Deus por meu amigo ter deixado de frequentar aquele lugar. Meu mico seria muito maior.Saio da academia questionando a teoria que afirma que o exercício físico proporciona bem-estar. Procuro um resquício que seja da famosa endorfina, mas só me sinto um Chris Rock. Agora sei como se sentiam meus colegas de escola que só sentavam no fundo da sala e me olhavam com raiva quando eu lia toda feliz mais uma das redações elogiadas pela professora. Nossa! Não sei como eles não me mataram, porque eu, hoje, pior aluna da academia, só não ataco com ódio as “gostosonas”, porque sei que basta um peteleco delas para eu cair dura, tremelicando as gordurinhas.Tudo bem, é assim que funciona. Sigo persistindo, falando mal das bonitonas por pura inveja (admito) e tentando compensar a falta – ou o excesso – de gostosura com outros dotes “acadêmicos” .

3 comentários:

Mazé disse...

Oi Lana. Me diverti demais com suas peripécias na academia. Sua interpretação de seu desempenho nos exercícios físicos me fizeram regredir algumas décadas no tempo e viajar a Livramento, quando a aula de Educaçaõ Física era às 05h da manhã, no tempo que não existia lycra e os "shorts" eram calções de brim,o tênis era um "conga" e nos ensaios paa o Sete de Setembro a gente descia e subia aquela ladeira da casa paroquial marchando ensaiando pra fazer bonito no "Dia da Pátia". Sua tia tinha dois pés esquerdos e não acertava nunca o ritmo da marcha, enquanto para todos era "esquerdo, direito", pra mim era "direito, esquerdo", a "meia volta, vooooolver" eu sempre a dava no sentido anti-horário. O pior era a plateia vendo "as meninas com as pernas de fora". Hoje foi muito engraçado lembrar. Bjos

Ilana Guimarães disse...

Pronto, tia! Mais uma coisa que herdei de vc! Rs!

Mari Campelo disse...

Ilaninhaaa, me identifiquei quase que por completo. Aqueles monstrinhos e monstrinhas com músculos assustadores, elevando quilos e quilos (além do ego, é claro!) e eu com meus humildes 3kg... Não consegui achar o prazer em sentir dores durante um dia inteiro.
Mas confesso: sinto falta da endorfina.